A guerra comercial travada pelo presidente americano Donald Trump, que ameaça pulverizar tarifas de importação em todo o planeta, representa uma oportunidade para as empresas brasileiras se aproximarem ainda mais das nações do mundo árabe. Essa afirmação é de Rubens Hannun, um dos maiores especialistas sobre o tema no País e ex-presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira.
“Temos uma longa história de boas relações com os árabes e podemos aprimorar ainda mais esse intercâmbio nos próximos anos”, afirmou Hannun, em entrevista ao BRAZIL ECONOMY. “O Brasil é, por exemplo, o maior produtor de carne halal do mundo, prova da afinidade cultural que existe há décadas. Esse possível tarifaço americano abre caminho para empresas brasileiras no mundo árabe”, acrescentou.
Os números atestam a força dessa afinidade. Em 2024, as exportações do Brasil para a Liga Árabe tiveram alta de 22,44% em relação ao ano anterior, totalizando US$ 23,68 bilhões, segundo cálculos da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, que acompanha o o troca comercial com o bloco de 22 países. De acordo com o Departamento de Inteligência de Mercado da instituição, o resultado representa o segundo recorde consecutivo de vendas para a região e também o melhor desempenho de receitas já alcançado desde o início da série histórica de exportações, compilada pelo governo brasileiro desde 1989.
O comércio com a Liga Árabe também registrou um superávit recorde para o Brasil, de US$ 13,50 bilhões, alta de 55,54% em relação ao ano anterior. A corrente de comércio, que é a soma das importações e exportações, avançou 12,88%, alcançando o recorde de US$ 33,87 bilhões, segundo a entidade. “O resultado chama a atenção por comprovar a resiliência dos mercados árabes, especialmente em um ano em que os embarques do Brasil para o mundo praticamente repetiram o desempenho de 2023”, pontua Mohamad Mourad, secretário-geral da Câmara Árabe. “O mercado árabe deve, portanto, estar entre as prioridades das empresas interessadas em internacionalizar suas operações”, defende.
Manual de bons negócios
Diante das boas perspectivas para empresas brasileiras no mercado árabe, Hannun lançará, no dia 11 de fevereiro, o livro Brasil e Mundo Árabe: Negócios, Marketing e Diplomacia Econômica Aplicada (Grupo Novo Século). O autor destaca a importância da relação comercial do Brasil com o bloco, as oportunidades de negócios existentes na região, experiências reais de negociações e casos de empresas bem-sucedidas que souberam adequar produtos, serviços, processos de marketing e de comunicação à cultura local.
A publicação é baseada na experiência de Hannun com pesquisas em países árabes, à frente de sua empresa, a H2R Trends & Insights, além de sua atuação como cônsul honorário da Tunísia no Brasil e como presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira entre 2017 e 2020. Nesse período, aliás, Hannun, junto com o governo brasileiro, esteve diretamente envolvido nos esforços para contornar os atritos causados pelo anúncio da mudança da embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém e pela Operação Carne Fraca, episódios também detalhados no livro.
Ao longo dos dez capítulos da obra, Hannun enfatiza a importância de os empresários se disporem a construir relações com interlocutores árabes. Segundo ele, na cultura de negócios árabe, mais importante do que adquirir produtos com preços, prazos e especificações desejados, é a existência de confiança entre as partes e a disposição para uma relação duradoura, o que pode tornar as negociações mais longevas do que em outras partes do mundo.O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, também falou ao BRAZIL ECONOMY sobre o potencial da indústria brasileira no comércio global. Confira a entrevista completa aqui.
“Os árabes, de fato, prezam um relacionamento que vai além da compra e venda. Eles querem saber com quem estão falando. Não há ali apenas um vendedor, mas uma pessoa com uma vida, uma família”, disse Hannun.