O desafio de atrair mais turistas para o Brasil

O turismo internacional no Brasil é um tema que provoca intensos debates, bravatas, palpites e comparações — muitas vezes, até mesmo com torres de ferro e estátuas

Toni Sando*
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Imagens: Divulgação

Toni Sando defende incentivo ao turismo para crescimento do PIB

Toni Sando defende incentivo ao turismo para crescimento do PIB

Apesar do vasto potencial turístico de um país continental, o Brasil ainda não alcançou números expressivos de visitantes estrangeiros. Entre os desafios que limitam esse crescimento estão a localização geográfica, a malha aérea insuficiente e a ausência de políticas públicas estratégicas e eficazes de longo prazo. Estudos da Organização Mundial do Turismo mostram que 80% das viagens internacionais ocorrem em trajetos de curta distância, com até cinco horas de voo.

Distante dos grandes mercados emissores, como Europa, América do Norte e Ásia, o Brasil depende dos 20% de viajantes dispostos a fazer longos deslocamentos, o que naturalmente reduz sua competitividade em relação a outros destinos globais. Comparações com países como México, Estados Unidos e algumas nações europeias evidenciam nossas dificuldades.

Enquanto o México atrai 42 milhões de turistas por ano, beneficiando-se da proximidade com os Estados Unidos, e a Europa ultrapassa 347 milhões de visitantes anuais em apenas seis países, o Brasil recebe pouco mais de seis milhões de estrangeiros. Esse número é desproporcional ao potencial do país, que oferece uma ampla diversidade de atrações naturais, culturais, gastronômicas e históricas.

Além disso, nossos vizinhos sul-americanos, que poderiam compor um mercado emissor relevante, enfrentam limitações de poder aquisitivo e baixa densidade populacional. Mesmo assim, mais de 18 milhões de sul-americanos viajam para destinos no Hemisfério Norte, enquanto apenas uma pequena fração escolhe o Brasil.

Para superar essas barreiras, é fundamental desenvolver estratégias alinhadas às vocações de cada destino. Uma alternativa para atrair viajantes de longa distância é o fortalecimento de nichos turísticos, como o segmento MICE – Meetings, Incentives, Conferences e Exhibitions.

Congressos, feiras, eventos corporativos e viagens de incentivo têm o potencial de atrair visitantes com maior poder aquisitivo e dispostos a explorar destinos além dos circuitos tradicionais. Esses segmentos, além de movimentarem significativamente a economia local, podem coexistir com o turismo de massa, que também é essencial para um país continental como o Brasil.

Ainda assim, qualquer avanço dependerá de políticas públicas que favoreçam a conectividade aérea, reduzam a carga tributária, melhorem a mobilidade urbana e garantam segurança jurídica para atrair investimentos.

Diante das limitações e da forte concorrência no turismo receptivo internacional, o mercado interno se destaca como motor essencial da atividade turística.

Por isso, defendo a importância da economia do visitante. O turismo só gera impacto positivo nas cidades quando atrai recursos de fora. As autoridades locais precisam compreender o potencial econômico do setor e estimular empresários a investirem em infraestrutura turística. Além disso, é fundamental que áreas com apelo turístico recebam regulamentação adequada para garantir que os investimentos estejam alinhados com a vocação do destino.

São Paulo, por exemplo, foi pioneiro na criação de oito distritos turísticos e no apoio às 70 estâncias turísticas e aos 140 municípios de interesse turístico.

Milhões de brasileiros movimentam a economia local ao viajar pelo país, sustentando destinos e gerando empregos. Mas esse número poderia ser ainda maior.

Fortalecer o mercado nacional não é apenas uma estratégia viável — é uma necessidade. Dada a diversidade de atrações e o crescente interesse por experiências locais, investir no turismo doméstico é uma decisão estratégica e sustentável.

Enquanto trabalhamos para superar os entraves que limitam o crescimento do turismo internacional — sendo a distância um dos principais desafios —, é fundamental adotar metas realistas e priorizar ações públicas e privadas que gerem resultados concretos e sustentáveis.

Nesse cenário, talvez o foco não deva estar na China ou na Austrália, mas sim em oportunidades mais próximas e viáveis.

Somente com planejamento estratégico, público e privado trabalhando juntos, investimentos direcionados e uma visão integrada do setor será possível transformar o potencial do turismo brasileiro em benefícios reais para toda a cadeia econômica e para a sociedade.

*Toni Sando é presidente da Unedestinos (União Nacional dos CVBs e Entidades de Destinos), presidente do Visite São Paulo Convention Bureau e Membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo

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