O CEO da Aquapolo Ambiental, Márcio José, faz uma análise mais realista sobre o movimento ESG (ambiental, social e governança) do que a maioria dos executivos envolvidos nesse tema. “ESG é bonito até a hora que entra no custo das empresas”, disse José ao BRAZIL ECONOMY, em uma avaliação que foge do status quo do mercado, no qual as divulgações sobre os números ganham enfeites reluzentes e os projetos em que as companhias estão envolvidas são mostrados como os mais frutíferos e eficientes. É tudo muito bonito até a página dois.
Márcio José vai justamente além dessas páginas ao criticar o fato de que os discursos dos executivos a favor da pauta ESG duram até o momento em que precisam destinar recursos de seus orçamentos para projetos. Indagado se a consciência do empresariado, no geral, tem mudado acerca da importância das iniciativas sociais e ambientais, ele é enfático. “A pressão, por conta de metas e indicadores de ESG, tem avançado. A consciência, nem tanto”, afirmou.
A avaliação do CEO da Aquapolo é ancorada em sua busca por contratos na área de água reciclada, segmento no qual a empresa é o maior empreendimento da América Latina e um dos maiores do mundo. A companhia é resultado da parceria entre a GS Inima Industrial e a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo).
Criada em 2009 e com início das operações em 2012, a Aquapolo surgiu como uma solução para a gestão hídrica diante das mudanças climáticas. A empresa processa esgoto a partir de sua base na Estação de Tratamento de Esgoto ABC da Sabesp (ETE-ABC). Parte da vazão que seria destinada ao Córrego dos Meninos é desviada para a operação da Aquapolo. A água recuperada passa por rigorosos parâmetros de qualidade antes de ser distribuída para plantas industriais.

A entrega da água produzida é feita por uma adutora de 17 quilômetros de extensão, que sai de sua sede em São Paulo, passa da empresa em São Paulo, passa pelos municípios de São Caetano do Sul e Santo André e chega a uma torre de distribuição em Capuava, na cidade de Mauá, onde está localizado o Polo Petroquímico de Capuava.
A partir dali, outra rede de distribuição, de 3,6 quilômetros, fornece o recurso aos clientes do Polo. A adutora foi projetada para permitir derivações — ramais de distribuição para atender potenciais clientes, sejam eles órgãos públicos ou privados, ao longo de seu percurso. É justamente nesse processo de captação de novos contratos que a Aquapolo tem atuado. Conversas com grandes corporações, como a GM, que fica em São Caetano, estão em andamento.
Entre os atuais clientes estão o Polo Petroquímico de Capuava, a Braskem e indústrias da região do ABC Paulista, como Air Liquide, Bridgestone, Cabot Corporation, White Martins, Paranapanema, Hydro, Oxiteno e Vitopel. Ao todo, são nove clientes atendidos em 14 plantas industriais.
A Aquapolo tem capacidade para produzir até 1 mil litros de água de reuso por segundo, volume equivalente ao abastecimento de uma cidade de 500 mil habitantes. O impacto ambiental positivo está no fato de que, a cada litro de água produzida em suas instalações, outro litro de água potável é economizado.
A produção atual varia entre 380 e 450 litros por segundo, dependendo do mês. “Sem interrupção no fornecimento”, afirmou Márcio José, relembrando crises hídricas passadas, quando faltou água para a população e para empresas.
O faturamento de 2024 ficou na casa dos R$ 152 milhões. “Temos crescido, com margens boas. O projeto inicial previa o pagamento de dividendos a partir de 2023, mas começamos em 2019. Ano passado foi recorde, com R$ 34 milhões distribuídos”, destacou o CEO.
Desafio
O desafio da Aquapolo é mostrar ao mercado que o investimento em água recuperada é benéfico não apenas do ponto de vista ambiental, mas também do operacional. A companhia tem um modelo de negócio, de certa forma, inusitado. Ao mesmo tempo que tem a Sabesp como acionista, ela também é sua concorrente, pois distribui água captada em mananciais a preços mais baixos.

A diferença de preço entre a água da Sabesp e a da Aquapolo varia, pois o recurso hídrico de reuso não é tabelado. No cálculo da Aquapolo entram fatores como o investimento no projeto (construção dos ramais de distribuição e outras infraestruturas, por exemplo), o volume a ser consumido e o tempo de contrato. “Podemos cobrar alguns centavos pela nossa água. Não temos limite, desde que a equação fique em pé”, explicou o executivo.
As vantagens para os clientes, segundo o CEO, vão além da questão ambiental. A Aquapolo vem se posicionando como uma empresa que vende sustentabilidade para o setor industrial e não apenas como fornecedora de água de reuso.
A Braskem, por exemplo, antes de receber os recursos da Aquapolo, fazia paradas para manutenção a cada quatro ou cinco anos. “Esse período passou a ser a cada oito ou nove anos com nossa água, que tem qualidade superior à que eles usavam antes”, disse José. “Havia corrosão e incrustação nos equipamentos, o que gerava mais manutenção. Os benefícios indiretos vão se acumulando além da questão da sustentabilidade.”
A tecnologia tem avançado para tornar a qualidade da água cada vez melhor, a ponto de a Aquapolo já pensar em ampliar sua atuação e tornar a água proveniente do esgoto potável para recarregar mananciais. Processos estão em estudo.
Além de evoluir seus negócios, a empresa também tem feito a lição de casa ao consumir, desde o dia 1º de janeiro deste ano, toda a energia de fontes renováveis, contratada no mercado livre de energia.