Há alguns dias, os investidores da Méliuz ficaram de mau humor. Isso porque a empresa informou ao mercado que o Banco BV optou por não exercer seu direito de compra de ações da companhia, que seria válido até o dia 31 de março. A decisão significava que a instituição financeira não aumentaria sua participação na Méliuz. O burburinho, então, se voltou para o BV, que poderia estar atravessando um período de dificuldades. Mas as especulações só duraram até o dia 18, quando Gabriel Ferreira, CEO do BV, anunciou um avanço de 49,2% no lucro líquido do banco, para R$ 1,7 bilhão, o maior dos 36 anos de história do grupo.
“Fortalecemos nosso core business, o financiamento de veículos leves usados, e tivemos crescimento em todas as linhas de produtos ligadas ao setor automotivo. Nossa relevância nesse segmento nos ajudou a alavancar outros negócios, como seguros e o banco relacional”, disse o executivo. No 4º trimestre, a empresa registrou lucro de R$ 542 milhões, alta de 79,2% em relação ao mesmo período de 2023. Segundo Ferreira, o ROE também atingiu um patamar inédito de 16% no último trimestre, 6,6 pontos percentuais acima do quarto trimestre de 2023. Na soma do ano, o ROE foi de 13,1%, uma alta de 4 pontos percentuais sobre 2023.
Para explicar o resultado, o executivo reforça a importância da diversificação dos negócios dentro da carteira de crédito, com destaque especial para a estruturação do FDIC BV Auto, utilizando como lastro a carteira de veículos. “A demanda pela transação, que foi a maior operação de FIDC nos últimos três anos no país, superou a oferta de R$ 3,5 bilhões e foi alocada para cerca de 180 fundos”, disse Ferreira. Além de reforçar o pioneirismo do banco, a operação tem importância estratégica porque desalavanca o balanço e permite maior originação de crédito. O BV chega ao final do ano como o segundo maior distribuidor de FDICs, segundo o ranking da Anbima.
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O impulso também ajudou a empresa entre as agências classificadoras de risco, como a Moody’s. A carteira de crédito total do BV subiu 6,7% em relação ao quarto trimestre de 2023, atingindo R$ 93,8 bilhões. No segmento de Varejo, o BV atingiu um novo recorde na originação de financiamento de veículos, que totalizou R$ 28,3 bilhões – um crescimento de 13,7% em relação ao desempenho do ano anterior, que já havia sido um recorde histórico. O banco se mantém há 12 anos na liderança do financiamento de veículos leves usados, e a carteira desse segmento cresceu 6,6% no quarto trimestre.
Ferreira detalhou ainda que, para facilitar a comparação entre os trimestres, foram expurgados os efeitos da cessão da carteira para o FDIC BV Auto. O resultado contábil do quarto trimestre, que leva em conta a criação do FDIC, aponta uma expansão de 3,0%, “número que não reflete o desempenho recorde de originação no período.”
Ainda no ramo automotivo, a carteira de motos, veículos pesados e novos, além do EGV (Empréstimo com Garantia de Veículo), apresentou avanços de 30,1% e 22,5%, respectivamente. O segmento de seguros também registrou recorde nos prêmios emitidos, com R$ 1,7 bilhão, um crescimento de 17,7% em comparação com 2023.
Outro segmento que apresentou bons números foi o de painéis solares, que registrou um incremento de 21,4%. “O forte avanço compensou a redução no tíquete médio, que refletiu a queda no preço dos painéis solares nos últimos anos.”
Já no segmento de Atacado, a carteira Corporate ampliada, que considera empresas com faturamento entre R$ 300 milhões e R$ 4 bilhões, cresceu 16,8%, e o portfólio de PMEs avançou 38,1% sobre o quarto trimestre de 2023. Ao final do período, o banco tinha 6,7 milhões de clientes, fazendo a base de depósitos saltar 164% na comparação com 2023. Outro destaque foi a originação de R$ 2,7 bilhões no ano em créditos provenientes do banco relacional, reforçando o engajamento desses clientes.
No ano, as receitas de serviços cresceram duas vezes mais do que a margem financeira, atingindo R$ 2,7 bilhões, 21,6% a mais que no ano anterior. “Destaco a atividade de corretagem de seguros, que em 2024 registrou volume recorde de R$ 1,7 bilhão em prêmios emitidos, crescimento de 17,7% sobre 2023”, afirmou Ferreira.
Já no negócio de distribuição de dívidas (DCM – Debt Capital Markets), o volume total da instituição bateu R$ 68 bilhões, uma expansão de 144% em relação a 2023. Desse total, 58% se enquadram nas categorias elegíveis do framework de Finanças ESG e Climáticas, alinhadas aos principais padrões do mercado de finanças sustentáveis e climáticas, consolidando a atuação e o avanço do BV no segmento.
Segundo Ronaldo Helpe, diretor financeiro do BV, tais resultados demonstram a capacidade da instituição de se adaptar às novas demandas e modelos de crédito. “Essa disciplina levou à queda dos índices de inadimplência e a um menor custo de crédito.” Segundo ele, o custo de crédito recuou 20,7% no quarto trimestre de 2024 na comparação anual, com inadimplência de 4,4%, uma queda de 0,9 ponto percentual, puxada pelo recuo de 1,2 ponto percentual nos índices do segmento de varejo. O indicador de inadimplência do atacado permaneceu em mínimas históricas, em 0,4%. O índice de Basileia atingiu 16%, um resultado 0,4 ponto percentual maior que o registrado no quarto trimestre de 2023.