“Qualquer governante é um meio. A sustentabilidade é um fim.” Com essas palavras, Jason Jay, professor sênior de sustentabilidade do MIT, inicia suas palestras nos Estados Unidos. Neste ano, seu objetivo tem sido mostrar ao mundo que existem opções verdes de investimento em diversas partes do planeta – e que há espaço para todo perfil de investidor. Isso porque há um movimento de evasão de recursos destinados a iniciativas de baixo carbono nos Estados Unidos, mas não necessariamente uma redução do interesse dos norte-americanos nesse tipo de ativo. Para mensurar esse mercado, ele desenvolveu uma pesquisa em parceria com o Environmental Defense Fund. E os números impressionam: no atual ritmo de saída de recursos, os Estados Unidos podem perder até US$ 3 trilhões em ativos verdes até 2030.
O que pode ser uma notícia ruim para quem se preocupa com a sustentabilidade nos Estados Unidos representa, para países como o Brasil, uma oportunidade. Ainda que algumas empresas que operam por lá reduzam o ritmo de investimentos nessa área, há, ao redor do mundo, muitos recursos disponíveis para essas práticas. No estudo Getting Strategic About Sustainability, Jay afirma que as multinacionais mantêm um compromisso global com suas operações, e que a redução nos Estados Unidos significa apenas uma realocação dos investimentos. “Hoje, 76% das companhias sinalizam que não deixarão de investir em ESG, independentemente do cenário político norte-americano”, disse ele ao BRAZIL ECONOMY.
Outro estudo que reforça essa tendência é o Mapping Brazil’s Ecosystem for Climate Finance 2025: Initiatives, Frameworks, and Disclosure in Brazil, organizado pelo Climate Finance Hub Brasil e mapeado pela CooperaClima. A CooperaClima integra o CFH ao lado da FBDS e do Grupo de Finanças e Investimentos Sustentáveis (gFIS/UFRJ). Segundo o levantamento, que funciona como um “cartão de visita” para investidores em potencial, há mais de 1.100 empresas brasileiras participando do Carbon Disclosure Project (CDP), cobrindo 78% do mercado de capitais nacional.
O estudo também destaca o pioneirismo do Brasil na elaboração de relatórios climáticos alinhados a padrões globais, como TCFD e ISSB, além do crescimento de 82% no último ano no número de companhias com metas sustentáveis validadas pela Science Based Targets Initiative (SBTi). Se as empresas demonstram estar preparadas, as grandes instituições financeiras também estão: o Partnership for Carbon Accounting Financials (PCAF) já conta com 13 instituições financeiras brasileiras, entre elas Banco BV, BNDES, BTG Pactual e XP Inc. Os bancos do país ainda participam de alianças globais como a Net-Zero Banking Alliance e a Asset Owner Alliance, para estruturar portfólios alinhados à neutralidade de carbono.

Enquanto empresas buscam investimentos e instituições financeiras ampliam suas carteiras de ativos sustentáveis, o governo federal também tem atuado para fomentar o setor. Em 2023, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, realizaram uma série de encontros nos Estados Unidos e na Europa para lançar a primeira emissão de títulos públicos sustentáveis. Em 2024, já foram duas rodadas de captação, totalizando mais de US$ 3,5 bilhões.
O sucesso da iniciativa levou o governo federal a regulamentar, no último dia 12, uma nova modalidade: a Cédula de Produto Rural Verde (CPR Verde), um título de crédito que permite financiar atividades de reflorestamento e manutenção da vegetação nativa em propriedades rurais. A expectativa do governo é que, em quatro anos, esse instrumento movimente US$ 5 bilhões. Além disso, projetos voltados para infraestrutura e indústria de base já estão no radar para futuras captações.
Cautela e caldo de galinha
Apesar do cenário favorável para os investimentos verdes, especialistas alertam para os impactos da nova administração de Donald Trump. Segundo Cassio Zeni, cofundador e diretor de Relações com Investidores da Rubik Capital, ainda é cedo para prever uma realocação de investimentos, mas há o risco de uma redução no compromisso das grandes corporações com a pauta ESG.

Um bom termômetro para avaliar essa tendência será a COP 30, conferência climática que reunirá líderes globais e será realizada em Belém, no Pará. Segundo Zeni, se as empresas continuarem investindo em reputação ESG e utilizarem a biodiversidade brasileira para inovação ética, o país poderá se consolidar como um polo de estabilidade nesse setor.
Sem se conhecerem, os três personagens desta reportagem – Jason Jay, Cassio Zeni e Ana Corrêa – compartilham a mesma visão: se houver estratégia na captação, estruturação e aplicação dos recursos, as boas práticas sustentáveis ultrapassam governos e se perpetuam no tempo.