Fintechs superam os bancões e viram as queridinhas das classes C e D

Segundo a Mastercard, popularização dos bancos digitais e avanço da internet colocaram o Brasil no topo do ranking de inclusão bancária da América Latina

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Imagens: Freepik

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Serviços bancários digitais ganham espaço e elevam a bancarização do brasileiro

Certa vez, Steve Jobs, fundador da Apple, disse que as pessoas não sabem o que querem até que você mostre a elas. A frase recebeu muitas críticas e reacendeu a discussão sobre os efeitos nocivos do consumo. À parte essa questão filosófica, a semântica da afirmação merece atenção. Todo empreendedor sabe que tornar seu produto uma necessidade é o caminho para o sucesso, mas muitos erram ao definir “para quem” sua solução serve.

Um exemplo de acerto na aplicação desse conceito são as fintechs, que encontraram nas classes menos abastadas e pouco atendidas pelos bancos tradicionais um caminho para crescer – e deu certo. No Brasil, 58% dos entrevistados afirmam que as fintechs lhes proporcionaram acesso a serviços e produtos antes inacessíveis.

Esse percentual, aliás, é o mais alto da América Latina, refletindo o avanço da bancarização no país e o crescimento do número de fintechs. Outro fator que impulsionou esse mercado no Brasil foi a implementação do Pix, que facilitou pagamentos e incentivou a busca por contas digitais. “O Pix tem sido um grande catalisador da inclusão financeira em todos os segmentos da sociedade, motivando a abertura de um número significativo de contas digitais”, afirma Fernando Bacchin, diretor de produtos transacionais do banco digital Inter. “Ele trouxe mais clientes para o ecossistema financeiro, gerando mais oportunidades para as fintechs do que desafios tecnológicos.”

Para elaborar o whitepaper A Nova Era da Inclusão Financeira na América Latina, a Mastercard entrevistou, além do Banco Inter, empresas como Albo, Galileo, Gilgamesh Venture e Ualá. O levantamento mostrou um crescimento de 340% no número de fintechs na América Latina desde 2017, totalizando mais de 3 mil empresas no setor. Entre os entrevistados, 53% afirmaram que seu acesso ao crédito melhorou com o aumento da concorrência promovido pelos serviços digitais.

Headshot Diego Szteinhendler colour | Brazil Economy
Diego Szteinhendler, VP de cibersegurança da Mastercard para América Latina

“As plataformas financeiras digitais não estão apenas acelerando a inclusão financeira na América Latina e no Caribe, mas também moldando o futuro das finanças ao fornecer soluções inovadoras e sustentáveis para uma base crescente de consumidores”, disse Diego Szteinhendler, SVP de Desenvolvimento de Negócios para Soluções de Cibersegurança e Inteligência da Mastercard na América Latina e no Caribe. “No futuro, é essencial que continuemos a promover um ambiente competitivo no qual esses players possam prosperar, trazendo benefícios tangíveis para consumidores e empresas.”

À medida que os pagamentos digitais continuam a se expandir, o uso de dinheiro em espécie ainda predomina na região. Entre os entrevistados de baixa renda, 40% afirmam pagar mais da metade de suas despesas mensais em dinheiro, enquanto, entre os indivíduos de alta renda, esse percentual cai para 25%. Para enfrentar esse desafio, a maioria das fintechs (entre 80% e 90%) busca promover maior igualdade financeira por meio de soluções digitais acessíveis.

Atualmente, os bancos digitais oferecem mais autonomia às populações carentes: 35% dos entrevistados de baixa renda possuem contas em bancos digitais, um percentual superior ao dos entrevistados de alta renda (28%). Além disso, mais da metade dos entrevistados no Brasil (58%), Colômbia (52%) e Peru (55%) afirmam que as fintechs lhes proporcionaram acesso a produtos financeiros antes indisponíveis.

OPÇÕES POPULARES

Com a ampliação do acesso a serviços bancários, é fundamental que novas soluções surjam, especialmente para as classes C e D. Em 2024, 77% das famílias brasileiras estavam endividadas, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

Rafa Cavalcanti, CEO da CloQ — fintech de impacto social que auxilia brasileiros na construção de um histórico de crédito positivo, seguro e estável por meio do nanocrédito —, destaca que as classes menos favorecidas possuem grande potencial de consumo, “mas ainda enfrentam barreiras significativas, como juros altos e dificuldades de acesso a produtos financeiros que atendam às suas necessidades. Simplificar o crédito é essencial para contribuir para a redução do endividamento.”

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Rafa Cavalcanti, fundadora da CloQ, cita a importância da educação financeira até para o nanocrédito

De acordo com um relatório da Mastercard, ao atender populações de baixa renda, as fintechs contribuem para a promoção da igualdade no acesso a serviços financeiros. Segundo Miguel Armaza, cofundador da Gilgamesh Ventures — fundo americano de capital de risco que investe em fintechs em estágio inicial — entre 80% e 90% das fintechs da América Latina oferecem às classes C e D serviços que os bancos tradicionais não disponibilizam.

Além disso, micro e pequenos empresários também têm encontrado mais oportunidades nos bancos digitais. “A área na qual se observou o maior impacto foi o acesso ao crédito. No México, por exemplo, a fintech Xeppelin concede crédito a pequenas e médias empresas e disponibiliza um software que as auxilia na gestão financeira”, afirmou Armaza.

Ainda segundo o whitepaper, o acesso a serviços financeiros digitais permitiu que 75% dos entrevistados usassem menos dinheiro, 72% economizassem tempo em transações e 59% planejassem melhor suas finanças. Além disso, a digitalização abriu espaço para novas formas de investimento, como criptomoedas.

É a fórmula de Steve Jobs em ação.

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