Estudo exclusivo: risco e cautela são as palavras do crédito em 2025

Depois de expressivas expansões na carteira de crédito em 2024, os maiores bancos privados do Brasil entram no ritmo da moderação e falam em menor oferta para este ano

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Imagens: Freepik

crédito

Bancos esperam redução na oferta e aguardam medidas do governo para destravar o crédito

O mercado financeiro do Brasil entrou em 2025 com duas palavras de ordem: cautela e risco – em especial no recorte do crédito. E essa foi a toada na divulgação dos resultados dos três maiores bancos privados do País: Bradesco, Itaú e Santander. Em suas respectivas análises, as duas expressões foram citadas 32 vezes, o que reflete algo que a teoria  econômica moderna ensinou para o mercado financeiro contemporâneo: expectativa e probabilidade precisam residir em caixas diferentes. Para os bancos, ainda que seus lucros tenham crescido 22% ano passado, e as expectativas pareçam boas, a probabilidade de eventos adversos prejudicarem o mercado este ano imperou. Com as incertezas do cenário global, os preços em alta e a Selic em dois dígitos, calibrar as previsões se tornou imperativo entre instituições financeiras, autarquias do governo e classificadoras de risco. 

Um bom termômetro é a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), que estima uma queda entre 15% e 20% na oferta de financiamento imobiliário este ano, depois de um salto de 22% registrado em 2024, para R$ 186 bilhões. O Banco Central, que chegou a prever dois dígitos no incremento da oferta de crédito para este ano, calibrou as previsões e fala em algo em torno de 9%, patamar alinhado com a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), que reduziu a linha de crescimento para este ano de 9,6% para 9% depois de 84% dos entrevistados para uma pesquisa de oferta de crédito aguardarem uma desaceleração já no primeiro semestre. 

E enquanto os bancos pisam em ovos sobre o volume de crédito a ser disponibilizado na praça este ano, um outro termômetro surge – desta vez na ótica da pessoa física. Um estudo da Croma Consultoria indica que 46% dos brasileiros certamente ou provavelmente abrirá uma nova conta bancária no futuro, cifra que sobe para 58% quando recortado apenas os brasileiros mais ricos.

Entre as instituições mais citadas para abertura, os públicos Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal foram os mais citados, com 36% e 21% das intenções, respectivamente.

Quando a análise se dá por perfil do cliente pessoa física, as estatais atraem principalmente as classes mais baixas. Bradesco e Nubank foram os mais procurados pelas gerações mais jovens que buscam inovação e conveniência. Itaú é o preferido por clientes de alta renda e que valorizam serviços bancários personalizados (29%). 

A confiança nas instituições financeiras é um fator crucial para a estabilidade e crescimento do setor bancário”, disse Edmar Bulla, fundador do Grupo Croma e idealizador do estudo obtido com exclusividade pelo BRAZIL ECONOMY

COMO MUDAR A ROTA

Na limiar entre expectativa e probabilidade, há no front alguns cenários que podem ajudar a destravar o mercado de crédito, algumas delas em discussão no Legislativo e no Executivo brasileiro. Segundo o Centro de Liderança Pública, ampliação de garantias para operações de crédito, incluindo a execução extrajudicial e o uso de pagamentos eletrônicos como garantia, pode reduzir os riscos dos credores e, por consequência, favorecer a oferta de financiamento a custos menores, em especial na oferta para pessoas jurídicas.

Entre as pessoas físicas, a implementação do consignado do E-social deve facilitar a concessão de crédito a trabalhadores “promovendo maior inclusão financeira e dinamismo econômico”, informa o relatório “As 25 medidas prioritárias do Governo para 2025 e 2026”, que avalia as pautas em andamento como favoráveis para destravar o crédito, mas com algumas ressalvas.

E a ressalva se dá pela execução extrajudicial, que pode gerar  sobre a proteção do devedor e a necessidade de salvaguardas para evitar abusos. “É importante que o marco legal estabeleça limites claros e mecanismos de supervisão adequados, para que o estímulo ao crédito não resulte em situações de vulnerabilidade excessiva para os tomadores. Assim, a iniciativa é promissora, mas demanda cautela regulatória para equilibrar agilidade e segurança jurídica”, detalha o relatório. 

CENÁRIO POSTO

Enquanto as questões legais para destravar o crédito não avançam, os bancos seguem cautelosos, apesar do resultado pujante do ano passado, quando o lucro líquido do Bradesco, Itaú e Santander somou R$ 74,8 bilhões. O incremento, inclusive, foi puxado pela oferta de crédito. 

Quem melhorou com carteira de crédito ano passado foi o Itaú (+15,5% no ano). Com avanço generalizado em perfil de empresa e de dívida. Quando recortado os ganhos provenientes dos cartões de crédito, houve alta de 4,9% sobre um ano antes, puxado pelos subsetores Uniclass e Personnalité, que são segmentos voltados para média e alta renda. Para este ano, a alta deve ficar em 8,5%.

Durante conferência com investidores, Milton Maluhy, presidente do Itaú, afirmou que o novo consignado privado, o qual o governo deve enviar como proposta ao Legislativo nos próximos dias, pode ajudar a destravar o crédito este ano. Proposto pelo governo, pode levar a uma expansão de crédito positiva para o País.

Na visão dele, é preciso discutir temas como o endividamento e os canais onde o produto estará disponível. “Acho uma super oportunidade, pode vir a ser um programa de crédito para o País muito forte, muito positivo.”

No Bradesco, o incremento de 11,9% na carteira de crédito no ano passado também não deve se repetir este ano, com um avanço estimado entre 4% a 8% a depender do cenário macroeconômico. A alta do ano passado se deu após dois anos de desaceleração que foi guiada para reverter o crescimento da inadimplência da carteira. “Tem uma regulagem do nosso apetite a risco, que se reflete no nosso guidance”, afirmou Marcelo Noronha, CEO do banco. 

Dos três maiores bancos privados, o Santander é o único que informa o  guidance, mas as palavra desaceleração e cautela também apareceram com frequência. “É provável crescer na mesma ordem de grandeza de 2024. É pouco provável nós crescermos mais”, disse o presidente do banco, Mario Leão.

E ainda que a probabilidade de fatores nocivos para o mercado financeiro seja maior em 2025, os presidentes dos três bancos sinalizam que estarão prontos também para uma virada positiva na economia.

No Itaú, Maluhy deixou claro que, havendo espaço, o banco consegue destravar mais crédito e acompanhar a demanda. “A nossa velocidade de reação para qualquer cenário que venha à frente é muito rápida. Não são decisões que você toma em 30 ou 60 dias, são decisões que você toma todos os dias”, disse.

Noronha, pelo Bradesco, foi na mesma direção. Segundo ele, o banco já havia tirado o pé do acelerador na concessão de crédito nos últimos meses do ano passado, e que a retomada pode acontecer na mesma velocidade, se o mercado assim permitir.

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