Qualquer medida anunciada pelos Estados Unidos é naturalmente motivo para os olhos do mundo ficarem bem abertos e atentos às suas consequências. É nesse compasso que está a Albras, maior produtora de alumínio primário no Brasil, diante da taxação assinada pelo presidente americano Donald Trump de 25% sobre o alumínio e o aço, que começa a vigorar a partir de março. A empresa do Pará está atenta às consequências, mas não tão preocupada. Isso porque os Estados Unidos não são um destino para seu minério. A companhia está focada em dar continuidade às vendas para a Europa e o Japão, além de fortalecer o mercado brasileiro. E mais do que isso: para se diferenciar da concorrência nacional – dividindo praticamente a liderança do setor com a Alcoa e a CBA, do Grupo Votorantim –, a Albras aposta na produção de um “alumínio mais verde”, como define o CEO, Luiz Roberto Silva Junior.
Para tanto, a estratégia é colocar em prática um plano de investimentos robusto, na casa dos R$ 6,6 bilhões pelos próximos sete anos, em projetos de tecnologia, conversão energética e melhor aproveitamento de recursos hídricos. “Vamos posicionar a marca como referência ambiental e de processos de produção de alumínio”, disse Silva Junior ao BRAZIL ECONOMY.
O timing do anúncio desses investimentos é importante. A COP 30 (30ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas) será realizada em novembro justamente no Pará. A planta da Albras fica na cidade de Barcarena, a 100 quilômetros da capital Belém. Além disso, a companhia completa 40 anos de atividades em 2025.
“O mundo vai colocar luz na região da Amazônia. Nós queremos mostrar que entendemos a localidade, participamos do desenvolvimento e temos responsabilidade social”, afirmou o CEO.
Na outra ponta, as iniciativas da Albras também visam dar mais corpo à operação da empresa, que, em 2023, faturou R$ 5,765 bilhões, com uma produção de 458 mil toneladas de alumínio no período. Foram R$ 3,111 bilhões em vendas para o mercado interno e R$ 2,654 bilhões em exportações, principalmente para o Japão, que compra cerca de 150 mil toneladas – equivalente a mais de 10% da demanda do país asiático.
O Japão tem forte ligação com a Albras. A NAAC – Nippon Amazon Aluminium Co. Ltd., formada por um consórcio de empresas japonesas, tradings, consumidores e fabricantes de produtos de alumínio, detém 49% das ações da companhia. Os outros 51% pertencem à norueguesa Hydro.
O mercado brasileiro de alumínio superou 1 milhão de toneladas produzidas em 2023, segundo a Abal (Associação Brasileira do Alumínio). De janeiro a outubro de 2024, o crescimento foi de 7,9%. Sem os números fechados do ano passado, a Albras faturou acima dos R$ 6 bilhões em 2024, segundo projeções do mercado.
Albras é a maior consumidora de energia do Brasil
A produção de alumínio requer um enorme consumo de energia, o que leva a Albras a ser a maior consumidora do país entre os consumidores livres, com cerca de 800 megawatts. Nos últimos anos, a companhia tem trabalhado para mudar sua matriz energética.
Com o fim do contrato com a Eletro Norte em 2024, a companhia inicia 2025 com dois grandes projetos de usinas solares no estado de Minas Gerais. Assim, 300 megawatts já serão oriundos dessa geração limpa, em contratos fechados por um período de 20 anos. “Os outros 500 megawatts vamos avançar e entender como podemos ter uma melhor posição de mercado”, disse Silva Junior.
Outra iniciativa da Albras em relação ao ESG é a destinação dos resíduos de alumínio. “Há dois anos, conquistamos a certificação internacional Zero Waste to Landfill, que garante que não enviamos resíduos para aterros sanitários”, afirmou o executivo.
No planejamento da Albras, ainda há outras duas frentes: a substituição da queima de óleo na produção por gás natural e a instalação de um sistema de tratamento da água das chuvas.
Com essas ações, a Albras tem produzido alumínio com apenas 4 quilos de CO₂ por quilo de metal, um número muito inferior à média global do setor, de 12,9 quilos de CO₂, definida pelo International Aluminium Institute.
Nesse contexto de ESG, os Estados Unidos também atuam para mudar tendências. O presidente americano tem puxado a fila para que as iniciativas sociais, de preservação do meio ambiente e de governança sejam deixadas de lado.
Ainda assim, segundo o CEO, a Albras acompanha as discussões, mas seguirá com seu trabalho no setor. “A Europa ainda é pujante nesse debate, e o Brasil tem sido pressionado para seguir nessa direção, com toda sua capacidade de colaboração. Acreditamos que essa agenda vai continuar forte, e vamos seguir nela”, destacou.