ArcelorMittal conclui parque solar de R$ 895 milhões em joint venture com Atlas Energy

Projeto em Paracatu, município do noroeste de Minas Gerais, faz parte de um pacote de investimentos na ordem de R$ 5,8 bilhões da siderúrgica no Brasil, para alcançar 85% de autogeração de energia limpa até 2030

Compartilhe:

Imagens: Divulgação

Parque Luiz Carlos, de energia solar, em Paracatu (MG), tem produção prevista de 69 MW médios/ano e potência instalada de 269 MW

Parque Luiz Carlos, de energia solar, em Paracatu (MG), tem produção prevista de 69 MW médios/ano e potência instalada de 269 MW

Quarta maior consumidora de energia e maior produtora de aço do Brasil, a ArcelorMittal segue com investimentos robustos em geração de energia limpa. Em tempo recorde — pouco mais de um ano após o anúncio —, a siderúrgica concluiu o projeto de energia solar no Parque Luiz Carlos, em Paracatu, cidade do Noroeste de Minas Gerais. O investimento foi de R$ 895 milhões, fruto de uma joint venture com a Atlas Renewable Energy, que implementou os 500 mil painéis solares e faz o gerenciamento de riscos da operação. A produção prevista é de 74 MW médios por ano e potência instalada de 320 MW.

O contrato estabelecido entre as parceiras é no modelo BOT (Build, Operate and Transfer): forma-se uma JV durante a construção e, depois de entrar em operação comercial, todo o capital é adquirido pela ArcelorMittal.

Com o início efetivo da geração e o plugue no Sistema Interligado Nacional (SIN), por meio de uma linha de transmissão de 65 quilômetros, haverá uma fase de transição dos ativos até que a produtora de aço assuma totalmente o controle.

Everton Negresiolo, CEO da ArcelorMittal Aços Longos para a América Latina
Everton Negresiolo, CEO da ArcelorMittal Aços Longos para a América Latina

“Esse projeto mostra a capacidade e o potencial da indústria brasileira, seja ela de geração de energia, seja na cadeia do aço”, disse ao BRAZIL ECONOMY Everton Negresiolo, CEO da ArcelorMittal Aços Longos para a América Latina. “É mais uma realização da mudança importante no setor de energia no Brasil nos últimos anos. Temos sido protagonistas também nesse aspecto”, complementou.

O presidente da Atlas Renewable Energy no Brasil, Fábio Bortoluzo, ressaltou que o parque fotovoltaico em parceria com a ArcelorMittal marca uma nova modalidade de trabalho para a empresa, que usualmente opera e é proprietária dos ativos no longo prazo. No projeto de Paracatu, é a siderúrgica que fica com a responsabilidade dos ativos.

“Nossa grande expertise é a execução do projeto, a construção, as compras, o gerenciamento de risco. Gosto muito de quando cada um faz a sua especialidade. A especialidade da ArcelorMittal é usar a energia para transformar em aço. A nossa especialidade é entregar o ativo pronto e operativo”, afirmou o executivo.

Na avaliação de Bortoluzo, a indústria — que está entre as maiores consumidoras de energia — muitas vezes não quer subsidiar a transição energética. “Todo mundo quer apoiar, obviamente, mas precisa ser econômico, precisa ser rentável dentro da sua estrutura de custos”, disse o presidente, ao observar ainda que o setor energético brasileiro está em fase de aprendizado e desenvolvimento e que a Atlas “está numa fase de garantir a continuidade dessa história de sucesso das energias renováveis no Brasil”.

Investimento estratégico

O investimento feito pela ArcelorMittal é estratégico. Os R$ 895 milhões no Parque Luiz Carlos, em Paracatu, são parte de um projeto maior, que prevê R$ 5,8 bilhões em aportes para que a companhia chegue a 2030 com 85% de geração própria de energia renovável no Brasil. Hoje, esse índice é de 61%.

Além disso, as iniciativas de ESG da ArcelorMittal no Brasil atuam com sistemas de recuperação de calor e reaproveitamento de gases provenientes dos processos produtivos. As plantas de Tubarão, maior usina do grupo no Brasil, localizada no município da Serra (ES), e do Pecém, no Ceará, por exemplo, são autossuficientes em energia elétrica.

presidente da Atlas Renewable Energy no Brasil, Fábio Bortoluzo
presidente da Atlas Renewable Energy no Brasil, Fábio Bortoluzo

A companhia tem aumentado a utilização de sucata na produção para contribuir ainda mais com a meta de ser carbono neutro até 2050 e, como passo intermediário, reduzir em 25% suas emissões específicas até 2030.

Mas não é só isso. O investimento da ArcelorMittal tem a ver também com redução de gastos. Estima-se que a energia seja responsável por entre 5% e 8% dos custos da produção de aço. E a produção própria de energia solar pode reduzir os custos entre 10% e 30%, segundo estimativas de alguns estudos.

Por estratégia de negócio, a ArcelorMittal não revela a economia gerada com os investimentos em placas fotovoltaicas. E, no fim do processo, a companhia ainda vende parte do excedente de sua produção energética, que conta com outros projetos em andamento, especialmente com a Casa dos Ventos, de energia eólica, no Ceará.

“Do ponto de vista econômico, de business, esses investimentos são extremamente estratégicos para avançarmos na cadeia, seja no upstream, seja nas matérias-primas, seja no desenvolvimento da geração de energia própria”, considerou Everton Negresiolo, CEO da ArcelorMittal Aços Longos.

Desafios

O desafio para a ArcelorMittal e para a Atlas Energy é o chamado curtailment, redução ou corte forçado da geração das usinas, principalmente solares e eólicas, por decisão do Operador Nacional do Sistema (ONS). Isso tem ocorrido no Brasil porque o sistema elétrico não consegue absorver o excedente de energia gerado, por limitações da rede ou excesso de oferta em relação à demanda.

O crescimento do setor não foi acompanhado pela legislação e pelas políticas regulatórias. “Estamos muito preocupados com o desenrolar dessa situação”, disse Fábio Bortoluzo, presidente da Atlas no País.

A Medida Provisória 1.304, aprovada pelo Congresso Nacional e que aguarda sanção presidencial, cria um cronograma gradual para que consumidores — pessoas e empresas — possam aderir ao Ambiente de Contratação Livre (ACL).

“[Com a MP] Há uma tentativa de amenizar a situação, mas ainda é insuficiente para uma solução a contento. Temos acompanhado com bastante atenção se o Ministério de Minas e Energia vai encampar e encabeçar um normativo mais definitivo, que deixe mais claros os critérios de produção e consumo”, afirmou o executivo, ao observar que “o mais importante é ter uma alocação clara dos riscos para que novos projetos sejam viáveis, o que não está sendo o caso hoje”.

Para o presidente da Atlas, trata-se de uma oportunidade para o Brasil avançar nas normas de energia, assim como avançou em infraestrutura de rodovias, portos e aeroportos, por exemplo. “As autoridades têm a oportunidade — a faca e o queijo na mão — para poder dar um melhor endereçamento para essa questão.”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

ASSINE NOSSA NEWSLETTER E
FIQUE POR DENTRO DAS PRINCIPAIS NOTÍCIAS DO MERCADO

    Quer receber notícias pelo Whatsapp ou Telegram? Clique nos ícones e participe de nossas comunidades.