Paulo Skaf já havia presidido a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) em quatro oportunidades, mas disse que não tinha o desejo de voltar ao cargo. Com a destituição de Josué Gomes da presidência, porém, Skaf diz que foi “convocado por um movimento espontâneo e irrecusável dos setores produtivos” paulistas, o que levou a sua 5ª eleição, com 99% dos votos em um momento desafiador para a indústria nacional após Trump impor a tarifa de 50% aos produtos brasileiros.
Em entrevista exclusiva ao BRAZIL ECONOMY, Skaf foi categórico ao comentar que, embora já tenha tentado se eleger para o Palácio dos Bandeirantes, não pretende voltar ao cenário político. Crítico histórico do PT, contra quem popularizou a famosa figura do pato amarelo que marcou as discussões do impeachment de Dilma Rousseff, ele também mandou um recado direto ao Governo Federal de que a federação não aceitará facilmente qualquer aumento de impostos. Confira a entrevista a completa:
O senhor foi eleito para o 5º mandato como presidente da FIESP em agosto, poucas semanas após Donald Trump anunciar a tarifa de 50% aos produtos brasileiros. Na sua visão, como a indústria reagiu a este processo?
A indústria reagiu com grande preocupação e senso de urgência. A imposição de uma tarifa de 50% afetou, principalmente, as pequenas e médias empresas, que já enfrentam mais dificuldades para negociar com parceiros internacionais na hora de encontrar caminhos alternativos. É um problema nacional. E não podemos atuar apenas em momentos de crise. É essencial manter um diálogo constante com governos e parceiros internacionais para antecipar riscos e preservar a competitividade das nossas empresas. A FIESP vai exercer a diplomacia empresarial para garantir que as relações comerciais sejam sólidas, transparentes e imunes a turbulências políticas que prejudiquem a geração de empregos e o crescimento da indústria.
As negociações entre os governos de Lula e Trump têm ajudado a amenizar os impactos?
Houve um grande esforço do setor privado para buscar soluções e soubemos pela imprensa que a reunião entre o governo brasileiro e o norte-americano foi considerada positiva. É crucial que o diálogo continue para eliminar esses obstáculos e reabrir a avenida de integração e novos negócios, pois os Estados Unidos são nosso principal cliente de manufaturas, um parceiro histórico de 200 anos e um dos maiores investidores estrangeiros no Brasil. O socorro mais eficaz é o governo brasileiro ter gestos que possam fazer os Estados Unidos recuarem dessa decisão.
O que o senhor considera de prioritário nesta volta ao comando da FIESP?
Trabalhar pela união do setor produtivo e pela busca por competitividade global e tecnológica. É preciso preparar as empresas, principalmente PMEs, para o cenário da Inteligência Artificial e Internet das Coisas. E vamos defender uma agenda em Brasília para reduzir o tamanho do Estado e cortar despesas públicas, o que é o primeiro passo para a redução dos juros altos. Para a FIESP é tolerância zero a qualquer aumento de impostos.
Quais os principais atrativos que o senhor vê para quem quer investir na área industrial brasileira?
A indústria é um patrimônio essencial que desenvolve tecnologia, paga bons salários e recolhe muitos impostos. Embora enfrente o “Custo Brasil”, o nosso setor produtivo é talentoso, criativo e resiliente. Minha visão é catalisar essa força. A FIESP se dedicará a estimular a competitividade em todos os cantos de São Paulo em referências globais na nova era da Inteligência Artificial e da Internet das Coisas. Destaco ainda que o estado de São Paulo tem vocação industrial em todo o seu território e vai muito além da manufatura tradicional e de tecnologia, abrangendo áreas como economia criativa, construção civil, meio ambiente, infraestrutura, saúde, têxtil, couro, calçados e agronegócio. Essa diversidade é o que torna São Paulo um estado em constante transformação, preparado para receber e desenvolver indústrias que acompanham as demandas do futuro. O estado segue como o principal polo industrial do país e sua força está justamente na diversidade e na capacidade de adaptação das suas regiões.
O senhor demonstrou apoio às operações feitas nas comunidades do Rio de Janeiro no começo de novembro que provocaram mais de 120 mortes. Acha que algo parecido é necessário em São Paulo?
A minha manifestação foi de admiração e respeito aos policiais que enfrentam o crime organizado. O Brasil está em guerra contra o crime e a guerra não se ganha com palavras bonitas. Em momentos como esse, é preciso deixar claro: estou do lado do Brasil e de quem o defende. Chega de proteger bandido. O foco é a segurança de todos os brasileiros, seja no Rio, em São Paulo ou em qualquer outro lugar do país.
Recentemente o Governo Federal fez uma grande operação contra o PCC relacionando o grupo com alguns empresários de fintechs. Isso pode atrapalhar de alguma maneira o ambiente de negócios da FIESP?
A FIESP tem um propósito que vai além da economia. Buscamos ativamente o equilíbrio, a paz e as respostas para os problemas mais urgentes do Brasil. A segurança pública é um desses problemas, tanto que teremos um Conselho de Segurança Pública presidido pelo senador Sergio Moro a partir de janeiro. A questão do narcotráfico e do crime organizado afeta o ambiente de negócios de forma geral, por isso, a nossa posição é clara: queremos segurança e paz para o país, e é preciso buscar soluções. O importante é que a sociedade se una e olhe o interesse maior da nação.
Falando justamente sobre o Conselho da FIESP, quais os critérios que o senhor utilizou na escolha dos nomes?
O primeiro movimento da minha gestão foi definir os presidentes dos 17 Conselhos Superiores da FIESP, que funcionarão como verdadeiros “ministérios da sociedade”. O critério principal foi reunir as melhores cabeças pensantes para trabalharmos por um Brasil com visão global, competitividade e inovação. É um time de representantes de todos os estados para pensar o Brasil.
Os empresários da indústria temem as eleições estaduais do ano que vem como algo que pode gerar instabilidade no ambiente de negócios local?
A economia e os negócios não combinam com brigas e confusões. O que a indústria quer são condições semelhantes às dos nossos concorrentes para sermos competitivos, e isso passa por um ambiente não hostil, com juros baixos e menos gastos públicos. A FIESP não se envolve em política partidária. Nossa postura é de independência dos governos, aplaudindo o que é bom para o país e criticando o que for negativo, independente do partido. A sociedade brasileira já deu o seu recado. Não queremos mais aumento de impostos, queremos serviços públicos de qualidade com o dinheiro que já pagamos.
O senhor tem algum plano político para 2026?
Não tenho pretensão de retornar à política partidária. Não estou filiado a partido nenhum. Não passava pela minha cabeça voltar à FIESP, mas fui convocado por um movimento espontâneo e irrecusável dos setores produtivos. Minha dedicação será total à FIESP e ao Brasil, para ajudarmos o máximo nesta nova fase do mundo. A FIESP manterá sua independência partidária e focará no que sempre for melhor para a nação.

