IBM amplia serviços de IA para pequena empresa e faz do Brasil máquina de negócios

Dona de um faturamento global de US$ 62,7 bilhões em 2024, a companhia aposta no País para diversificar fontes de receita e disseminar inovações para as empresas

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Imagens: Cláudio Gatti/Brazil Economy

Tonny Martins comanda a operação da IBM na América Latina, um dos principais drivers de crescimento da companhia

Tonny Martins comanda a operação da IBM na América Latina, um dos principais drivers de crescimento da companhia

A popularização da Inteligência Artificial em quase todos os setores da economia não tem surpreendido ninguém na sede da IBM no Brasil, um imponente prédio em formato de “i” (de IBM) na região da Vila Mariana, em São Paulo. Isso porque a IA da gigante americana de tecnologia, o Watson, completou uma década de existência em 2024, consolidando-se como a mais popular plataforma aberta de multicloud e machine learning.

Atualmente, US$ 3,5 bilhões relativos à eficiência operacional nos processos internos da companhia no mundo vem do uso de IA. “A Inteligência Artificial é o novo fio condutor da economia, assim como a internet nos anos 90. Não se trata de substituir humanos, mas de ampliar sua capacidade com tecnologia governável e ética”, afirmou Tonny Martins, presidente da IBM América Latina, em entrevista exclusiva ao BRAZIL ECONOMY. “Costumo comparar a IA a um automóvel. Ela não é apenas o motor, mas o carro completo. Cada empresa precisa saber qual carro é o melhor para ela e como tirar o máximo proveito”, acrescentou o executivo.

Dentro desse contexto, a IBM na América Latina – impulsionada principalmente pelo Brasil – tem contribuído significativamente para o crescimento global da companhia nos últimos cinco anos, segundo Martins. O motivo é que o país está em estágio avançado de digitalização e adoção de novas tecnologias em diversos segmentos, como o setor bancário e o agronegócio. Além disso, a IBM tem dado atenção às demandas de transformação digital de micro, pequenas e médias empresas. “Tomamos a atitude de disseminar nossas soluções para os pequenos porque o potencial desse mercado é imenso no Brasil”, disse Martins. “Assim, nos tornamos um grande porta-aviões para que parceiros de todos os tamanhos possam voar.”

O mais recente estudo da Morning Consulting revelou que 50% das empresas brasileiras estão buscando essa alternativa para otimizar seus investimentos em 2025, enquanto, globalmente, esse percentual é de 48%. Por isso, a IBM também está expandindo sua aposta na nuvem híbrida no país por meio de aquisições estratégicas e do lançamento de novas soluções para impulsionar seus clientes.

A companhia anunciou recentemente a disponibilidade da série de modelos WatsonX Granite, que fazem parte de sua plataforma de IA generativa. A democratização da IA, na avaliação de Martins, é essencial para impulsionar a inovação. “O avanço de modelos menores e eficientes, como o DeepSeek, que também utiliza nossa plataforma, demonstra que soluções acessíveis podem ser mais viáveis do que sistemas massivos e de alto custo”, afirmou o CEO. Entre os principais benefícios da IA de código aberto estão a redução de custos, maior transparência e auditabilidade, suporte a arquiteturas multinuvem e aplicações adaptadas a setores específicos.

A busca por IA aberta reflete a tendência global de reduzir a dependência de fornecedores proprietários e garantir maior controle sobre dados e algoritmos. No dia do anúncio do DeepSeek, em 27 de janeiro deste ano, as ações da IBM registraram alta em comparação com a concorrência e acumula valorização de 38,9% neste ano, demonstrando a confiança do mercado na estratégia da empresa. As perdas das gigantes americanas de tecnologia ultrapassaram US$ 1 trilhão naquele dia.

Aquisições reforçam portfólio

A IBM também tem reforçado sua presença no mercado por meio de aquisições estratégicas. Em fevereiro de 2025, a empresa concluiu a compra da HashiCorp por US$ 6,4 bilhões, ampliando sua atuação em nuvem híbrida. A HashiCorp é conhecida por soluções como o Terraform, que automatiza o provisionamento e o gerenciamento de infraestrutura em nuvem, permitindo maior eficiência para clientes empresariais.

Outra movimentação importante foi o anúncio da aquisição da DataStax, líder em soluções de IA e dados, cuja conclusão está prevista para o segundo trimestre de 2025. A empresa é reconhecida por seu banco de dados NoSQL AstraDB, baseado no Apache Cassandra, e por ferramentas como o Langflow, que facilita o desenvolvimento de aplicações de IA com baixo código. A incorporação da DataStax ao portfólio WatsonX da IBM fortalece o uso de IA generativa em ambientes empresariais e permite uma melhor exploração de dados não estruturados. Essas aquisições se somam à compra da Red Hat em 2019, por US$ 34 bilhões, que consolidou a IBM como uma das principais fornecedoras de soluções de nuvem híbrida.

Aplicação da IA na própria IBM

Internamente, a IBM também tem utilizado IA para otimizar suas operações. O AskHR, um bot de recursos humanos, registrou 243 mil usuários únicos e 1,9 milhão de interações, melhorando em 75% a produtividade e reduzindo em 61% os tickets abertos. A solução, que simplifica e automatiza processos de RH, também está sendo implementada para clientes corporativos.

Em agosto do ano passado, a IBM anunciou uma parceria com a TD Synnex para inaugurar o Centro de Excelência (CoE) na América Latina. O CoE fornecerá suporte a parceiros de negócios e clientes na adoção de soluções inovadoras em IA, dados e automação. A iniciativa visa acelerar a digitalização das empresas na região e impulsionar o crescimento do ecossistema IBM.

Com essa estratégia focada em IA aberta, aquisições estratégicas e expansão da nuvem híbrida, a IBM reforça sua posição no concorrido mercado de transformação digital das empresas. O avanço de soluções de IA generativa, aliado às novas capacidades adquiridas com a HashiCorp e a DataStax, promete redefinir a maneira como corporações gerenciam infraestrutura e dados, promovendo maior eficiência e inovação em diversos setores.

Entrevista com Tonny Martins, CEO da IBM América Latina

O presidente afirma que para crescer a IBM tem dado atenção às demandas das micro, pequenas e médias empresas
O presidente afirma que para crescer a IBM tem dado atenção às demandas das micro, pequenas e médias empresas

“Como toda tecnologia, a IA pode ser usada para o bem ou para o mal. Por isso, é essencial ter governança”

Por que a IA parece ter dominado todos os setores da economia hoje?
A IA já existia há anos (desde 2014 no Brasil), mas só se tornou visível para o público com os Large Language Models (LLMs), como o ChatGPT. Antes, ela operava de forma invisível em serviços financeiros, telecomunicações e back-office. Agora, é algo visível e aplicável à rotina de qualquer pessoa. Por isso, parece ter dominado tudo.

A IA vai substituir empregos ou aumentar a capacidade humana?
Sem dúvida, aumenta a capacidade humana, trazendo eficiência em três pilares: inovação em modelos de negócio, como a internet fez nos anos 90; redução de custos operacionais; e melhoria na experiência do cliente. As jornadas se tornaram mais intuitivas.

Qual o risco da IA para empresas e governos?
Como toda tecnologia, a IA pode ser usada para o bem ou para o mal. Por isso, é essencial ter governança em tempo real, com ferramentas que monitorem com precisão e conformidade regulatória.

Como a IBM diferencia sua IA da concorrência?
A IBM foca em IA aberta, específica e governável. Temos modelos menores e especializados (não genéricos), treinados com dados do cliente. A plataforma integrada WatsonX é capaz de orquestrar dados, múltiplos modelos e governança em tempo real. Além disso, temos eficiência de custo, evitando gastos desnecessários.

Qual o maior obstáculo para as empresas na adoção de novas tecnologias?
A mudança cultural. Líderes precisam de mais de 200 horas por ano de capacitação em IA para tomar decisões estratégicas.

Como a IBM se tornou líder em IA digital?
Com mudança de cultura, aquisições estratégicas e foco em cloud híbrida, segurança de dados e automação inteligente.

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