Líder global em tecnologia de viagens de ônibus, a empresa alemã FlixBus tem no Brasil sua maior rota rodoviária do mundo entre os 44 países em que atua. O trajeto conecta as capitais Goiânia (GO) e Natal (RN), em uma viagem com duração de aproximadamente 53 horas. Durante o percurso de 2,5 mil quilômetros, os passageiros passam por 18 cidades, em sete estados e no Distrito Federal. Mas a plataforma não quer apenas o título de distância recorde por aqui. Ela também visa transformar a operação no País em uma das maiores do mundo em relação a número de viajantes, faturamento e lucro.
“Nosso modelo claramente tem grande potencial no mercado brasileiro, apesar de todas as dificuldades regulatórias”, disse ao BRAZIL ECONOMY Edson Lopes, CEO da FlixBus no Brasil. “O País tem grande potencial para se tornar um dos maiores mercados rodoviários do mundo”, afirmou o executivo, ao ressaltar, porém, que “barreiras que precisam ser superadas”.
Antes de abordar os desafios, abordemos as vias de crescimento da empresa. A companhia surgiu para o mundo a partir da Alemanha em 2011. O negócio em solo brasileiro é recente. Despontou há apenas três anos. Desde então, tem aplicado US$ 100 milhões (cerca de R$ 600 milhões) para acelerar as parcerias e sua expansão. O investimento deve chegar a R$ 1 bilhão nos próximos anos.

O modelo é de asset-light, pois não possui frota própria. É como o Airbnb, maior locadora de imóveis do planeta sem ter um único apartamento, ou a Uber, expoente em transporte de passageiros sem possuir qualquer carro. A FlixBus atua com parceiros. Na rota Goiânia-Natal, por exemplo, a viação Catedral faz a autorização e a operação da linha. A empresa alemã entra com tecnologia para conectar os passageiros aos ônibus em sua eficiente plataforma de vendas, marketing e atendimento ao consumidor. Pontualidade e preços competitivos estão entre os atrativos da plataforma.
Com esse sistema, iniciou sua jornada no País conectando cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Cresceu em mais de oito vezes o número de quilômetros rodados mensalmente e hoje as rotas passam por 13 estados e o DF, abrangendo as regiões Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. São mais de 100 municípios atendidos.
Com uma navegação facilitada e boa experiência de compra, a exemplo do que ocorre nos demais países, o site da FlixBus Brasil tem se destacado globalmente. É o segundo portal de viagens que mais cresce no mundo, com um aumento de mais de 300% ao ano, segundo dados da Similarweb.
O número de passageiros atendidos é mantido sob sigilo pela companhia por questão estratégica. “Já são milhões. Não podemos abrir o número, mas certamente está em pelo menos sete dígitos”, despistou o CEO.
O que ele não esconde é o plano de crescimento. Tem avançado com autorizações próprias, em que os processos estão em andamento junto aos órgãos competentes. “Estamos muito próximos de obter as primeiras, que vão conectar oito estados do Brasil”, disse Lopes.
Na estrada das oportunidades está também as características das cidades atendidas. Um terço dos destinos possuem menos de 100 mil habitantes. E essa tendência não é exclusiva do Brasil. Globalmente, 30% dos destinos atendidos pela empresa estão justamente em pequenos municípios.
“O Brasil tem dimensões continentais e grandes lacunas de conectividade entre muitas regiões. Mais de 60% das cidades não possuem linhas interestaduais regulares, a malha aérea é reduzida e o transporte ferroviário de passageiros não é eficazmente implementado”, pontuou o executivo da FlixBus.
“Há necessidades de avanços regulatórios”
Lembra das barreiras a serem superadas, citadas por Edson Lopes no início desta reportagem. Vamos a elas. No radar estão as normas regulatórias do setor. O novo marco da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Resolução nº 6.034/2024, aprovado no fim de 2023 e em vigor desde fevereiro de 2024, “apresenta normas controversas, especialmente no que diz respeito à abertura do mercado para novas linhas e novos players”, na avaliação da companhia.
Segundo a análise da FlixBus, foram criadas regras que limitam o número de operadores por linha, até mesmo em trajetos nos quais não há nenhuma empresa operando atualmente. “Além disso, o novo marco veio com fórmulas ultrapassadas e em desconformidade com a legislação vigente, como por exemplo o uso de parâmetros de 2006 referente a outro tipo de outorga, e ainda com a criação de janelas, impedindo que rotas desatendidas sejam imediatamente supridas e dificultando o aumento da oferta de serviços”, disse Lopes.
Para o executivo, em um País de dimensões continentais como o Brasil, “o desafio não é a falta de cidades para atender, mas a necessidade de avanços regulatórios para tornar essas conexões uma realidade”.
Com oportunidades e desafios, a FlixBus tem saído de uma posição de uma marca completamente desconhecida no Brasil para alcançar 20% de brand awareness (nível de familiaridade dos consumidores com o produto), em um mercado tradicional e ainda pouco presente no mundo online como o transporte rodoviário de longa distância.